segunda-feira, 26 de novembro de 2012


Tempo...

Passando...

Perdido...

Esvaindo...

Como a gota da chuva, que só cai uma vez...

sábado, 24 de novembro de 2012

Silêncio...


Eu estava cansado, minhas mãos já estavam feridas. Passara horas desde que eu comecei a me arrastar em busca de algum obstáculo, mas não encontrava nada, era como se eu não estivesse me movendo. Meu corpo já estava imerso na imundice daquele solo abandonado, a escuridão não permitia que eu desfrutasse da minha visão, se é que eu ainda a possuía. O som do gotejar distante me dava esperanças no inicio, mas por mais que eu me arrastasse em qualquer direção ele continuava fraco, distante. Estaria eu enlouquecendo? Talvez fosse apenas um pesadelo e logo eu iria acordar com o corpo suado e ofegante.
Mais algumas horas apenas com o gotejar distante a me atormentar, já não encontrava mais forças para me arrastar. Sentia as feridas em meus braços e pernas agravarem, toda aquela podridão poderia estar causando graves infecções ao meu corpo. Nada mais importava, não poderia me apegar à ilusão de que tudo fosse um sonho, um erro e seria meu fim. A certa altura a dor se tornou obsoleta, a fome em meu corpo crescia e não havia nada que eu pudesse comer... “Nada” seria uma forma extrema de conclusão, afinal o chão estava forrado com uma grossa camada de imundice, poderia ser apenas terra e água suja, lodo ou resto de qualquer coisa, a única certeza é que tudo estava podre, o solo apesar de frio emanava um odor aquecido, um odor que perturbaria o olfato de qualquer um, e esse era o motivo de eu buscar algo pra me ajudar a levantar. Minha cabeça latejava, meus olhos queimavam, meu corpo sangrava e eu não sabia o motivo deste sofrimento.
Há dias que sentia a morte repousar em meus ombros, meu braço chocava com minhas pernas como se fosse um tronco seco. Estava a agradecer a escuridão neste momento, por não me permitir ver meu estado deplorável e cadavérico. Já não conseguia ter certeza se eu realmente estava vivo, meu corpo havia perecido ali, era o que eu sentia. Não havia mais dor, nem o fétido ar exalado do solo eu podia sentir mais, era o fim. Meu corpo estava morto, esta era a única certeza, mas minha alma ainda estava presa aquele local. Que terrível maldição seria esta? Não era a pergunta mais importante, minha mente era dilacerada em busca da resposta para outra pergunta. A questão não era o que estava acontecendo, mas sim porque estava acontecendo.
Não me recordo de nada antes deste pesadelo, despertei na escuridão, com dor, fome e frio. Despertei em um pesadelo no escuro. Mergulhei na podridão em busca de uma saída, seguia em frente em busca de um fim, não passava de um verme na sarjeta, uma criatura em estado tão deplorável que sentia pena e repulsa de si próprio. Comecei a duvidar se eu não merecia aquilo realmente, não fazia sentido todo aquele sofrimento. O que eu teria feito pra merecer tamanha maldição? Seria Deus me punindo? Seria o Diabo brincando com a minha alma? Perguntas que nunca encontravam respostas.
A cada novo gotejar distante sentia mais repulsa da minha existência, milhares de perguntas atormentavam minha cabeça, a dor apenas aumentava, mas nunca encontrava uma resposta, nem meu nome eu havia me lembrado. Toda a minha existência se resumia ao despertar na escuridão. Ali foi o inicio, e tudo que eu buscava agora era um fim. Mais um gotejar atormentava minha mente, caia como o som de uma bomba após a outra, cortava o silencio como um trovão furioso e era tudo que eu podia ouvir. Não havia respiração, nem pulsação, nada, apenas o gotejar distante na escuridão.