sábado, 1 de dezembro de 2012
Banquete com Ratos
Agora compreendo o erro que cometi. Minha infindável caminhada em busca de aceitação, vivendo a ilusão de um sol construído no fundo da garagem. Em uma dieta de erros e farsas, a base do meu império de lama.
O sonho se perdeu a tanto tempo que não me recordo da antiga criança, deixei o monstro tomar conta da minha alma (Não. minha alma se dissolveu em um esgoto de desespero). Conquistei um exercito de homenzinhos de barro, forjados a pedra e lodo.
Vagando com passos lentos por este pântano escuro, cada vez mais fundo, cada dia mais podre.
Tudo que crio esta em um histórico de peças teatrais, minha face tomou tantas formas que já não me recordo à verdadeira identidade. Noite após noite sendo torturado por essa coroa de espinhos, enquanto meu coração se infesta de vermes que pulsam em minha essência. A orquestra de um pesadelo, um maestro decadente, sou o arquiteto de um templo de mentiras, uma decepção para a alma que já se perdeu.
A ignorância me guiou por estradas em brasas, onde eu insistia em dizer que eram pepitas de ouro. Nesta tortuosa caminhada, vesti um manto de solidão, por sua vez, a solidão me vestiu. Um universo sem cor, tudo tingido por minhas mãos.
Um plano de conquistar tudo, tudo que conquistei foi uma ilusão, uma mentira que se voltou contra mim, me escravizando em seus dutos de gás venenoso, como um verme que deve trabalhar em busca da própria destruição.
Afastei todos, me isolei nesta bolha de hipocrisia, acreditava que poderia viver sobre minhas regras, acreditei que poderia sobreviver sozinho.
As lagrimas nunca deixaram de cair, a cada passo um novo cadáver, mais uma alma para alimentar o meu erro, meu coração clama em silencio, afogado no mar dos desolados, um busca de paz. Tudo que eu criei faz parte de mim, tudo que eu corrompi me atormenta como redemoinhos neste mar de pesadelos. Segundo após segundo, em um lamentável ciclo de sofrimento.
É tarde para lavar a alma, este arsenal de traição permanece dentro do meu corpo, onde deveria haver uma alma, meu peito carrega um vazio, agora sou apenas um esquecido no universo, um caído em solo sagrado, que devorou a própria casa para viver no abismo.
Lágrimas na Chuva...
Outra noite fria. A chuva forte deixava a rua deserta. Aquela típica penumbra em minha janela como um quadro na parede, um quadro que transmitia solidão e abandono. Havia percebido que dera um ar mais sombrio a toda àquela melancolia.
O som do radio estava alto, mas o som da tempestade sempre me deixava em um estado de transe, onde todo o resto não parecia nada alem de um borrão no horizonte. Apenas a rua escura e seus caminhantes fantasmas, vultos formados pela imponente luz de raios furiosos cortando o céu em meio as lagrimas das nuvens.
Dor e ódio. Era como a tempestade chegava a minha alma, uma fúria tão triste, que a dor que causa é menor que a dor que carrega. Ódio, dor, o olhar de uma criança em lagrimas, que chora por não ser forte.
Este paradoxo sempre tornando minhas noites mais atormentadas do que havia planejado. A tempestade sempre me desafiando a enfrentá-la, com aquele faminto sorriso diabólico, aquele terrível olhar assassino.
Percebo que eu sou a criança que chora por não ser forte, as lagrimas escorrem em uma face que apenas eu conheço. Aquele que vive escondido atrás de um fantoche, que sorri quando não há mais nada para fazer.
Vejo minha silhueta no vidro enegrecido pela noite, todo aquele ambiente trás de volta o “Eu” que estava enterrado. Um fraco sorriso pode ser percebido no canto da boca, alivio por estar sozinho nesse despertar deplorável. Por um instante me permiti liberar uma lagrima, não era tristeza, não era felicidade, apenas uma lagrima de alivio, uma lagrima para me sentir vivo, mesmo sabendo que após a tempestade tudo volta a ser como antes, com aquele típico tom cinza do dia-a-dia.
Algumas horas olhando para a janela, em um monólogo banhado a caos e incógnitas. As mesmas questões da noite anterior, uma rotina de sonhos, um sonho de uma criança morta, uma criança que busca vida, mas não se move para alcançar a luz, pois a força que ela precisa nunca esteve ao seu lado, o apoio sempre esteve do outro lado do muro, ao qual ela nunca se atreveu a cruzar, passando noites sem fim nesse monólogo com a tempestade, que sente a dor e o ódio, assim como essa alma que não conhece a esperança.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
sábado, 24 de novembro de 2012
Silêncio...
Eu estava cansado, minhas mãos já estavam feridas. Passara horas desde que eu comecei a me arrastar em busca de algum obstáculo, mas não encontrava nada, era como se eu não estivesse me movendo. Meu corpo já estava imerso na imundice daquele solo abandonado, a escuridão não permitia que eu desfrutasse da minha visão, se é que eu ainda a possuía. O som do gotejar distante me dava esperanças no inicio, mas por mais que eu me arrastasse em qualquer direção ele continuava fraco, distante. Estaria eu enlouquecendo? Talvez fosse apenas um pesadelo e logo eu iria acordar com o corpo suado e ofegante.
Mais algumas horas apenas com o gotejar distante a me atormentar, já não encontrava mais forças para me arrastar. Sentia as feridas em meus braços e pernas agravarem, toda aquela podridão poderia estar causando graves infecções ao meu corpo. Nada mais importava, não poderia me apegar à ilusão de que tudo fosse um sonho, um erro e seria meu fim. A certa altura a dor se tornou obsoleta, a fome em meu corpo crescia e não havia nada que eu pudesse comer... “Nada” seria uma forma extrema de conclusão, afinal o chão estava forrado com uma grossa camada de imundice, poderia ser apenas terra e água suja, lodo ou resto de qualquer coisa, a única certeza é que tudo estava podre, o solo apesar de frio emanava um odor aquecido, um odor que perturbaria o olfato de qualquer um, e esse era o motivo de eu buscar algo pra me ajudar a levantar. Minha cabeça latejava, meus olhos queimavam, meu corpo sangrava e eu não sabia o motivo deste sofrimento.
Há dias que sentia a morte repousar em meus ombros, meu braço chocava com minhas pernas como se fosse um tronco seco. Estava a agradecer a escuridão neste momento, por não me permitir ver meu estado deplorável e cadavérico. Já não conseguia ter certeza se eu realmente estava vivo, meu corpo havia perecido ali, era o que eu sentia. Não havia mais dor, nem o fétido ar exalado do solo eu podia sentir mais, era o fim. Meu corpo estava morto, esta era a única certeza, mas minha alma ainda estava presa aquele local. Que terrível maldição seria esta? Não era a pergunta mais importante, minha mente era dilacerada em busca da resposta para outra pergunta. A questão não era o que estava acontecendo, mas sim porque estava acontecendo.
Não me recordo de nada antes deste pesadelo, despertei na escuridão, com dor, fome e frio. Despertei em um pesadelo no escuro. Mergulhei na podridão em busca de uma saída, seguia em frente em busca de um fim, não passava de um verme na sarjeta, uma criatura em estado tão deplorável que sentia pena e repulsa de si próprio. Comecei a duvidar se eu não merecia aquilo realmente, não fazia sentido todo aquele sofrimento. O que eu teria feito pra merecer tamanha maldição? Seria Deus me punindo? Seria o Diabo brincando com a minha alma? Perguntas que nunca encontravam respostas.
A cada novo gotejar distante sentia mais repulsa da minha existência, milhares de perguntas atormentavam minha cabeça, a dor apenas aumentava, mas nunca encontrava uma resposta, nem meu nome eu havia me lembrado. Toda a minha existência se resumia ao despertar na escuridão. Ali foi o inicio, e tudo que eu buscava agora era um fim. Mais um gotejar atormentava minha mente, caia como o som de uma bomba após a outra, cortava o silencio como um trovão furioso e era tudo que eu podia ouvir. Não havia respiração, nem pulsação, nada, apenas o gotejar distante na escuridão.
domingo, 21 de outubro de 2012
O Tédio e o Tolo
Já se passava das 3 horas da madrugada, a penumbra parecia ajudar a noite a ficar mais fria. Andava de um lado para outro procurando algo para ocupar minha mente, na cozinha havia apenas porcarias que eu já estava farto de comer esta noite, na sala uma chata programação de madrugada. O relógio na parede parecia gritar conforme os segundos iam se passando, era tudo que ocupava minha mente naquele momento.
Não dava mais pra ficar dentro de casa, quatro relógios de parede, não havia como fugir deles. Estava jovem pra enlouquecer ainda, por que estes malditos relógios resolveram me atormentar esta noite? Bem, nada melhor que sair para olhar o céu noturno... Foi o que pensei como uma forma de fuga daquele tormento.
Frio. Muito frio e um céu escuro e vazio. Agora entendo porque as pessoas gostam de livros, quando se imagina um mundo você coloca mais cores nele. Ainda assim o silencio me reconfortava, estava seguro longe daqueles senhores do tempo que me torturavam segundo após segundo.
Um suspiro aliviado seguido de um leve espirro. Percebi que não podia fugir do que me atormentava. Apenas trocar o meu carrasco. Meu corpo tremia enquanto eu tentava pensar em algo pra ocupar o tempo -Droga, se pelo menos eu pudesse ver a lua ou as estrelas, talvez eu tivesse um pouco de inspiração- e esquecer aquela noite perturbadora.
O clima sombrio e melancólico havia ganhado um novo elemento, agora a neblina tornava aquela cena perfeita. Um sutil sorriso sarcástico estava moldado em minha face para olhos atentos, não que houvesse alguém ali para presenciar. Achava engraçado como eu me impressionava com uma cena tão obscura, aquilo tudo me atraia de forma mágica. Parecia tão incerto e arriscado, tão sombrio e perturbador, o medo se tornava mais uma motivação pra adentrar aquela escuridão que um escudo para me repelir daquele pesadelo.
Estava sentado na varanda de casa, havia silencio, a densa neblina que se formava já me deixava cego. Estava tão extasiado com aquela cena que havia me esquecido do frio, minha mente voltou a trabalhar, estava sozinho, no silencio... Mas minha alma se perdia em um mundo imaginário do qual não gostaria de sair. Já fazia semanas que não me sentia tão bem, tão tolo. Quando abracei a realidade com todas as minhas forças, acreditava que poderia ser uma pessoa melhor, mas tudo que consegui foi perceber que eu apenas posso viver como um tolo, se não for assim estarei apenas sobrevivendo.
Todos buscam uma razão para sua vida, a maioria a vive de forma vaga e sem compreender o que se passa dentro de si. Eu acreditava estar assim quando passava horas em mundos criados em minha mente, um sonhador sem limites, eu era o como um bufão em uma terra que não sorria. Sempre acreditei que eu estava apenas tentando fugir da realidade, fugir daquilo que não me agradava. Uma rota de fuga segura, mas que um dia teria um fim. Tolo eu era por pensar assim, descobri que esta minha fraqueza era a razão que eu sempre precisei.
-Sou um sonhador, sou um tolo, sou um contador de histórias que conta histórias para sua própria alma, mas sou feliz-
domingo, 14 de outubro de 2012
Entre Rosas e Espinhos
Você pode ouvir o vento lhe dar conselhos? No escuro tudo parece tão frio e sem vida, mas aquela musica me traz vagas lembranças. Não sei mais qual o reflexo que eu vejo no espelho, tudo se torna turvo quando se perde a esperança no amanha. É o caos que escolhe meu caminho nesta estrada. Ainda assim posso escutar o sussurrar das arvores. Isto chega a mim como um feixe de teimosia, que anseia por uma estrada mais limpa, mais clara.
Este vazio em mim esconde uma grande esperança, meus olhos não estão fechados, me precipito por penhascos mortais, mas apenas por enxergar o belo bosque que esta em sua base. Mas o vento é mais forte aqui de cima. Tudo pode ser perdido, todo o caminho pode ser mortal, este é o perigo de andar no escuro, você nunca sabe se realmente haverá chão para sustentar seus pés.
Ao abrir os olhos perco os sentidos momentaneamente, este choque de realidade realmente me deixa deturpado por um instante. Toda manha vejo o dia como se não o apreciasse por meses, uma nova esperança que renova a cada despertar e se deteriora a cada fim de tarde. È como uma roleta russa, um tiro ao acaso a cada novo dia, esperando que o alvo se mova na direção do projétil disparado.
A chuva continua a cair mesmo quando desejamos o sol, mas ainda assim somos capazes de desenhar na areia para que a chuva pare. Não se trata de inocência ou tolice, tudo é esperança. O que nos move é a vontade de ver o que surgira em seguida, gritar para que o vento pare de soprar não é um ato sem resultado, pois isto traz esperança, e essa esperança traz consigo a vontade de continuar.
Quando você se perde no escuro, consegue encontrar motivos para seguir adiante. O tempo é o melhor remédio, pois lhe permite encontrar as respostas. Todos desejam a luz, mesmo que seus corações estejam ofuscados por uma grande escuridão, a essência ainda anseia por um momento entre o brilho das estrelas.
Sempre haverá uma esperança nos caídos, todos possuem as duas faces de um todo. Aquele que sempre andou por campos verdejantes teve seu momento de fraqueza, onde queria estar em um pântano amaldiçoado. Aquele que sempre esteve vagando por campos obscuros de sua mente, nunca parou sua caminhada por esperança de achar uma fonte de luz. Hipócrita é quem acredita que pode haver luz sem presenciar a escuridão, ou que a escuridão tem sentido sem luz. Só compreendemos a maravilha de um estado quando sentimos a sua razão. Qual sentido a felicidade teria para quem nunca sentiu tristeza?
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
A Dor de um Sorriso
Já faz tanto tempo que me perco em pensamentos vazios. Cometi o erro de permitir que meu coração fosse tomado por essa escuridão degradante. É tão frio e assustador, e ainda assim tão reconfortante. Acho que passei muito tempo andando no escuro que hoje já sinto como se esse fosse o único caminho pelo qual meus pés podem seguir.
Este meu sorriso que sempre esteve à vista, ele esconde toda a dor que sinto, uma dor que nem mesmo eu consigo descrever. Falsidade pode ser uma boa maneira de descrever meus atos, mas apenas aqueles que estão perdidos no vazio sabem o que passa pelo meu coração.
Hoje perdi tudo. Hoje perdi todos. Hoje desisti de tudo mais uma vez. Esse meu medo de não conseguir me erguer me acorrenta neste calabouço. Sinto a chuva cair sobre meu corpo, esse cheiro de sangue perturba meus sentidos. Aqui é frio, úmido, vazio... Estou preso em um pesadelo, as chaves estão em minhas mãos, mas não me atrevo a soltar as correntes, não me atrevo a seguir por uma saída.
Sinto meu corpo ser dilacerado a cada gota de chuva que toca minha pele, sei que essa chuva de sangue representa o medo que tenho de tentar, mas essa dor já esta me torturando a tanto tempo que me acostumei a isso. Não consigo pensar de forma racional no meio deste caos que me cerca, de longe escuto gritos de sofrimento vindo de todos os lados, mas ainda assim não posso ver nada a minha volta, apenas sinto o respirar de demônios que anseiam pela minha queda.
Estava fisicamente no conforto da minha cama, minha mente estava presa neste pesadelo. Esta dor é o que atrapalha meu sono, este medo é o que agita minha alma. O único alivio é que ainda assim consigo sorrir, aprendi a esconder minha dor atrás de uma podre mascara de satisfação. Sei que é um egoísmo que vai me destruindo cada dia mais, porem ainda assim, só de não observar a preocupação nos olhos que me cercam já me deixa aliviado.
Estou caindo aos poucos, mas cada vez mais próximo ao salão dos desertores...
Estou em constante queda, mas sempre olhando para a saída... Quando terei coragem de seguir em direção aquelas colinas ensolaradas? Talvez amanhã, talvez nunca... Só o tempo ira escrever o resto desta história. Só espero terminar com o olhar no horizonte...
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Em Busca de Um Velho Sonho
Quando foi a ultima vez que realmente estive aqui? Gostaria de encontrar respostas sobre a minha existência. Já faz um bom tempo desde a ultima vez que realmente me senti vivo. Sempre me refugiando em um mundo de sonhos, buscando preencher o vazio com ilusões.
Gostaria de dizer que sinto dor, que estou triste, mas esse sentimento de nada não me permite nem isso. Não encontro um sentido pra continuar caminhando, não encontro forças pra segurar o que acredito ser. Preciso de descanso, preciso compreender o que se passa dentro de mim, me encontrar.
Não compreendo qual caminho seguir, não sei se minhas escolhas são as melhores, mas decidi partir. Estarei a vagar por um novo mundo, um mundo onde espero encontrar respostas para algumas questões simples, um lugar onde espero conseguir evoluir, deixar meu espírito em equilíbrio.
Varias portas já foram abertas, já me precipitei por muitos caminhos confusos, e nenhum deles me levou ao objetivo que tanto busco. Talvez esta seja minha ultima aventura, onde espero encontrar todos os fragmentos do meu ser e uni-los, para poder respirar em paz, para poder sentir o que realmente é estar vivo.
Não estou a me queixar da vida, não estou a desprezar tudo o que vivi até agora, mas estou cansado de viver de aparências, viver apenas tentando ser alguém. Quero conhecer a existência que vive dentro de mim, quero ter respostas para ter um sentido. Novamente digo que quero um momento de descanso.
Fugir! Sei que muitos pensam que sou um fraco apenas tentando fugir da rotina. Não tiro a razão deles, de certa forma esta realmente é uma fuga, não quero mais viver neste paradoxo ao qual me encontro hoje, quero um sentido, mesmo que para isso eu tenha de arriscar tudo, e no final ser tudo em vão. O que tenho a perder! Ou estou certo ou errado, apenas isso.
Um momento em convívio com o EU interior, terei tempo para tentar me entender. Essa será minha aventura, uma jornada talvez sem volta. Desta vez vagarei em silencio, no escuro. Espero encontrar todos os fragmentos que me completam, juntar este quebra-cabeça e encontrar a minha razão, encontrar a minha verdade.
Sim, uma despedia. Estas são palavras de adeus. Um significado pra minha ausência. É uma razão irracional, Palavras difusas e sem poder, mas me sinto na obrigação de deixar estas vagas palavras. Talvez o que retornar não seja o mesmo que partiu, por isso ainda como este incompreensível observador eu deixo estas que podem ser as ultimas palavras que escrevo. Não estou a dizer que tenho a intenção de destruir por completo esta minha versão, mas que se eu encontrar o sentido original, ele pode não ser o mesmo que eu acreditava seguir.
Não estou a partir em busca de apagar minha existência, não estou querendo fugir de tudo. Mas preciso fazer isso. Preciso seguir esta trilha, pois é tudo que me resta. Não tenho mais ao que me apegar, não tenho mais pelo que lutar, não tenho mais razão. Espero reencontrar o que a muito tempo eu deixei se perder na minha alma, e espero que a recompensa seja proporcional ao que deixo para traz.
Um adeus, um até logo. Tantas palavras apenas para chegar neste objetivo. Apenas um simples adeus. Palavras ao acaso, a sorte determinara se eu fiz a escolha certa... Agora só me resta esperar, só me resta deixar meus passos me responderem as perguntas que tanto me perturbam ou o tempo me mostrar o quanto fui tolo nessa aventura egoísta.
Apenas um breve ADEUS...
sábado, 22 de setembro de 2012
Um Sorriso Para Salvar Uma Alma
Havia tantas pessoas naquele pátio, sempre a passar de um lado para outro, algumas em pequenos grupos, outras perdidas em pensamentos solitários, mas nenhuma era especial aos olhos daquele melancólico observador. Rotina. Era apenas rotina. Sempre observando as pessoas a sua volta, em busca de um olhar especial, de um sorriso mágico, mas tudo o que passava a sua frente estava infectado com aquela deplorável e mórbida doença que ele chamava de rotina.
Havia dezenas de pessoas naquele pátio frio, era uma tarde de inverno e todos estavam desanimados, era como uma pintura em tom de cinza. Vez ou outra brotava um sorriso em alguma parte, mas era um sorriso sem vida, frio, falso. Por que era tão difícil encontrar uma luz no dia-a-dia? Sempre vagar entre corpos sem esperança corrompia a alma daquele pobre observador, que ansiava por uma fagulha de motivação.
Mais uma tarde de inverno a observar faces sem brilho, pessoas sem vontade, sem ideais. Estava destinado a ser apenas mais uma tarde de inverno, mas havia uma luz diferente naquele ambiente. Um sorriso diferente, um sorriso despreocupado. O triste olhar do observador estava brilhando, seria aquela a inspiração que ele tanto buscara?
Em meio a corpos sem vozes ele observou uma bela jovem, uma beleza que ele não assimilara a carne, mas sim uma beleza incomum, pura, real. Ela tinha um sorriso diferente, um sorriso que não tinha o objetivo de agradar ninguém, um sorriso que tinha como objetivo demonstrar sua paz interior. Era radiante aquela pequena garota, era mágica aquela sensação. Não era mais que uma jovem, com uma beleza comum, mas que se destacava pela paz que transmitia.
Em meio aquela mórbida pintura havia um anjo, ela possuía um sorriso que iluminava a escuridão, era tão anestésico aquela visão, como se ela pudesse trazer para dentro do observador a paz que ele já havia perdido, mas que ainda buscava encontrar em alguém.
Todo o sentimento de paz, toda a visão do anjo não havia durado mais que alguns minutos, mas que preenchera a mente daquele jovem vazio de forma tão intensa que ele imaginara ter passado horas observando tão pura beleza. Não se dera conta de quando a bela jovem havia partido, e havia se impressionado de forma tão sublime, que não poderia descrever os traços daquela que o servira de inspiração naquela tarde. Tudo o que recordava era de uma pequena jovem de cabelos vermelhos, olhos tímidos e um sorriso mágico.
Pobre observador, agora ansiava por um reencontro, mesmo sem esperanças. Tudo o que desejava era contemplar mais uma vez tão magnífica beleza, mesmo em contraste com aquele mórbido ambiente. Foi uma tarde tão incomum, e ao mesmo tempo especial, que não tinha certeza se de fato era real. Talvez apenas sua mente projetando o que ele buscara durante tanto tempo em tentativa de preencher o vazio que ele sentia.
Sabia que mesmo que fosse real, ele era o observador, e não o objeto observado. Não passava de mais um entre as dezenas de pessoas sem vida naquele pátio. Sabia que ele não havia sido percebido, mesmo que estivesse ali, estava apenas enfeitando de forma macabra o ambiente. Sabia que mesmo que encontrasse novamente aquela que o presenteou com paz interior, para ela ele não seria mais que um entre milhares.
Não fazia sentido se agarrar ao sonho de reencontrá-la. Não era prudente viver em busca de um anjo. Mas ainda assim ele agradecia aquele sentimento, agora ele possuía um objetivo na vida, uma vontade. Não era tudo cinza, em algum lugar havia uma garota que possuía a chave para a tranqüilidade, e que com um simples sorriso foi capaz de mostrar a um melancólico observador que existia pureza no caos, bastava procurar nos olhos certos.
Aquela era pra ele uma musa inspiradora. Com um inocente sorriso foi capaz de despertar chamas que ha muito tempo foram apagadas, foi capaz de dar ao nosso pobre observador uma nova visão do mundo, uma visão que ele jamais esquecera.
domingo, 16 de setembro de 2012
Anjos no Escuro...
Não era uma simples tarde de domingo, sei que estava por parecer mais um dia a me degenerar no tédio, mas no fundo eu sentia que seria uma tarde de domingo especial.
Nada novo bateu a minha porta hoje, nenhum sorriso novo me encheu de esperança esta tarde. Nem a noite havia sido melhor que as outras, então porque este seria um dia especial?
Deitado durante a tarde, com uma simples musica a ecoar em minha mente, estava preso em pensamentos... Sei que sempre me perco em vastos campos vazios de minha doce e cruel mente, mas esta tarde havia me adentrado em um paraíso de memórias que antes eu relutava em trabalhar. Sim, esta tarde me veio àquela inspiração que sempre busquei. Esta tarde eu dei um sorriso no escuro... Um doce e puro sorriso no escuro.
Não digo que estava em um lugar belo, ou alegre. Mas estava em paz. Tudo o que via em minha mente eram faces que sempre estiveram ao meu redor, me protegendo, me ensinando, me guiando. Apenas nessa bela tarde de domingo compreendi o verdadeiro valor daqueles momentos simples, que antes eu achava apenas tempo desperdiçado.
Sei que não compreendo o que esta acontecendo, mas compreendo que encontrei um motivo para me reerguer. Sim, uma palavra incomum ao meu depressivo vocabulário, mas que agora eu adotei como objetivo.
Uma tarde de domingo bem incomum, onde consegui observar o valor de um simples sorriso amigo, de uma simples conversa despreocupada. Aprendi como tenho guardiões sempre a meu lado, que sempre estão a me mostrar o caminho certo, e eu sempre estou a olhar para o chão. Mas agora devo agradecer o sorriso desta tarde a estes que eu atrevo a chamar de amigos.
Não compreendo os motivos, não encontro uma lógica razoável para seus atos, mas agradeço, pois foi deste caos que eu absorvi minha luz. Ter pessoas que estão dispostas a te fazer sorrir e lhe mostrar as portas certas, mesmo você estando preso a um mundo de sombras, acaba por revelar que o problema não estava na realidade, mas sim em meus olhos, que sempre focavam as sombras ao meu redor.
Gostaria de uma palavra. Apenas uma palavra para compreender seus motivos. Por que eles mergulham no abismo apenas para tentar me tirar deste mórbido humor? Por que eles enfrentam meus demônios para me proteger? Não sei as respostas, e estas perguntas se tornam menos importantes que os fatos, pois agora tudo que importa é descobrir uma maneira de agradecer. Sim, encontrar uma forma de recompensá-los por não me abandonarem, nem mesmo quando eu já havia desistido de minha alma... Se ainda tenho salvação? Não sei, mas irei me reerguer para dizer obrigado...
-Dedico este texto aqueles que me guiam com palavras... Spec, Neuber, Ana Branquinho, André e Bruna-
sábado, 15 de setembro de 2012
Um Pedido de Desculpas ao Vento
Lembra-se daquele sorriso tímido?! Aquele mesmo que você disse ser interessante.
Lembra-se daquelas palavras calmas?! Aquelas que você gostava de ouvir para se acalmar.
Lembra-se daquela tranqüilidade aparente?! Aquela mesmo que você disse que te fazia bem.
É... Eu consegui matar todos eles... Sim, eu consegui estragar tudo mais uma vez.
Esta noite não pude descansar, e creio que jamais descansarei novamente – a não ser que o veneno pra ratos faça efeito –
Gostaria de dizer que tudo foi um sonho, mas sabemos que não é...
Fui às nuvens em busca de paz, e tudo que consegui foi uma tempestade.
É engraçado sim, eu sei. Mas este arrependimento esta me matando.
Gostaria de poder mudar tudo... Sim, talvez mudar a realidade.
Essa culpa esta me torturando... Essa doce culpa esta me alimentando.
Estou a desviar o assunto minha bela jovem, talvez ainda exista uma dose de orgulho em mim...
Talvez eu ainda tenha um pouco de humanidade nessa alma... Talvez, apenas talvez.
Quero um pouco de descanso... Paz... Mas tenho medo de buscar esta paz, pois posso transformá-la em um turbilhão de sentimentos catastróficos – como sempre faço-
Mais uma vez desviando o assunto... Esse meu medo... Essa minha dor... Esse meu azar.
Sim, tentarei ser direto – muitos não terão fé nestas palavras – mas, preciso que ouça com atenção.
Apenas ouça, por favor, minha criança, apenas ouça e absorva as palavras...
Não desejo nenhum comentário... Seu silencio será o suficiente...
Quero apenas que ouça, e que o veredicto seja apenas pra si...
Minha dor é minha dor, tenho que conviver com ela... É meu carma... Meu castigo.
Perdão, mais uma vez desviando o assunto... Mas o assunto é exatamente este: Perdão!
Sim, desejo lhe pedir perdão, não que isso mude o passado... Não que isso repare meus erros...
Mas ainda assim me sinto na obrigação de pedir perdão... e agora lhe deixarei em paz... Apenas absorva tudo isso... Saiba que meu erro não tem como objetivo te deixar mal...
Gostaria de ser perfeito... Sim perfeição... Não para me sentir bem, mas para não fazer os outros se sentirem mal, compreende?!
Mas quem conhece o que é ser perfeito?... Não eu... Não.
Mais uma vez perdão, mesmo não reparando os erros... Mas peço perdão para que acredite que não foi má fé...
Deixarei apenas uma ultima palavra antes do meu silencio, e quero que reflita no seu silencio...
Perdão!
domingo, 9 de setembro de 2012
Perdido...
Quando despertei estava em um campo escuro, apenas a lua iluminava debilmente aquele ambiente. Não conseguia saber se era medo, admiração ou nostalgia o que sentia naquele lugar, mas estava extasiado - sim, era como eu conseguia descrever o momento- olhando o nada.
Minha visão continuava focada no vazio, observar tudo sem olhar para nada era tão anestésico. Ali eu me sentia seguro, mesmo o uivar de lobos ferozes que podiam ser ouvidos de longe não me amedrontava. A névoa que ilustrava tenebrosamente aquele éden me parecia tão atraente, tão bela, apesar de mortal.
Estava ali por um motivo, ainda não compreendia o que eu buscava naquele lugar, tão frio, tão escuro, tão sombrio, mas ainda assim tão acolhedor – pelo menos era para mim como uma saída segura – e belo. Só me restava pensar, mesmo acreditando que aquilo tudo já seria fruto da minha imaginação, tentando me deixar louco, sem razão.
Aquele pântano, cenário ideal para um bom filme de horror, se tornou minha casa, meu lar. Muitos perderiam a razão ali – se é que eu ainda não perdi a minha – apenas permanecendo por algumas horas, mas eu queria mais, eu queria poder lapidar aquele local até absorver a ultima gota de respostas. Sabia que aquele ambiente era eu mesmo, estava vagando em minha alma em busca de apenas uma verdade, estava perdido em minha mente a procura de uma única porta, e nela estaria tudo o que eu busco agora: EU – sim, eu estava nesta jornada tentando me encontrar, tentando me encontrar dentro da tempestade de incógnitas que não me permitem dormir –
Descobri uma rota segura para adentrar este pântano, mas eu desperto todas as manhas sem encontrar o que realmente procuro. Por anos vagando perdido por um lugar que somente eu conheço. Estaria andando em círculos? – talvez não, talvez isto tudo não passe de uma loucura, uma doce e terrível loucura -
Mais uma noite no escuro, mais um despertar sem respostas - quantas vezes mais terei de despertar, até que eu me encontre?! – neste belo pesadelo.
“E minha mente se torna uma bela e sombria donzela de ferro, a me torturar noite após noite, neste pântano frio e úmido que se chama solidão”
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Em um momento de silencio...
Antes do inicio eu já havia desistido.
Covarde! Medroso! Fraco!...
Antes de tentar eu já acreditava no fracasso.
Patético! Verme! Você é uma vergonha!...
Sim. Sim. Sim...
Como posso encarar meus amigos agora?
Todos acreditavam que eu poderia seguir sozinho.
Eu acreditava nisso, tola esperança.
Não. Não. Não...
Este sorriso em minha face não é aceitação.
Estou no abismo. Tenho medo. Sinto dor.
Este sorriso em minha face...
Uma fútil tentativa de parecer estar bem?
Antes do inicio eu já havia desistido.
Foi o que descobri esta noite.
Estava em paz, feliz...
Pelo menos era no que eu acreditava.
Mas uma noite, uma maldita noite parei pra pensar no passado.
Tolice... O passado deve ficar perdido. O meu passado deve ser apagado.
Antes de tentar eu já acreditava no fracasso.
Deixei-me levar por uma vil esperança.
Esperança de que poderia ser melhor?
Mais uma vez cuspo a palavra: Tolice.
Eu cresci no abismo. Me alimentei da solidão.
Como pude acreditar que a luz me faria bem?
Tsc, tsc, tsc... Maldita esperança.
Este carrasco que nos mata aos poucos.
Onde esta meu espírito agora?
Tolo! Você deixou sua alma morrer...
E a minha vontade?
Tolo! Você a destruiu naquela maldita noite...
HAHAHAHAHAHAHA...
Esta desagradável sensação de terror chega a ser cômica!
Tolo! Você esta tão desesperado que perdeu a razão...
Sim, talvez sim. Mas não importa mais, nada importa mais.
Tolo! Você desistiu de si naquela mesma maldita noite...
Não. Talvez não. Ainda acredito naquela baboseira toda.
Eles me convenceram de que seria bom
Ainda acredito, maldição! Ainda acredito.
Mas não. Não vou caminhar naquela direção novamente.
A escuridão se torna agradável depois de tanto tempo.
Você não acha?
Como posso achar? Você me obriga a viver neste calabouço...
Não tenho escolha. Você escolheu este caminho. Somos 1 só.
Hmm... Perdão! Eu acho. Mas somos 1 só, e este é o melhor caminho.
Você deve aceitar isso, pois sabe dos meus motivos.
Hmm... Não o desculpo! Jamais! Eu lamento sua escolha na verdade.
Por quê?
Optou pela dor, pelo terror, pelo tormento...
Apenas por acreditar que assim você não ira ser pego de surpresa.
Tolo! Você cai no abismo apenas para que não o empurrem para dentro dele...
Mas a dor é a mesma... Só que agora é mais constante.
HAHAHAHAHAHAHAHA
Deseja me dar uma lição esta tarde?
Eu não me importo com isto mais, nada mais importa.
Sei que sou o tolo. Sei que sou o fraco.
Mas sei a dor que sinto... E você deveria entender...
Não. Eu não compreendo. Você é um tolo sim.
E perecera perdido no escuro, sem vida, sem paz, sem descanso...
Com esse melancólico sorriso esculpido por eras neste calabouço.
Tolo! Você ira derramar mais uma lagrima...
Tolo! Você sentira medo dos seus próprios olhos...
Mas depois vira a paz... Em forma de insanidade.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Mágica
...era doce o som daquele riso despreocupado, ainda mais saindo de um homem daquela idade, com seus já cinqüenta e poucos anos.
- o que você acha tão engraçado moço? Perguntou a criança que estava sentada a seu lado na calçada.
- me diz uma coisa moleque, você sabe contar até quanto?
A criança mal vestida, com o rosto e mãos cobertas por grossas camadas de sujeira, não hesitou em abrir as duas mãos fitando-as – um pouco mais que isso aqui! – disse mostrando seus dedos magros ao velho.
O velho tentou conter a gargalhada, mas não teve sucesso, de longe podiam ser ouvidos seus risos, que deixaram o menino a seu lado um pouco perplexo e pensando “O que ele acha tão engraçado nas coisas?”
Ao se recompor o velho pegou uma moeda e mostrou ao menino um velho truque de mágica, fazendo aquela velha peça de metal correr de forma suave por seus dedos e se tornar um medalhão.
-Nossa! Como você faz isso moço? Me ensina por favor!
Aquele velho homem, outrora um mágico, pegou a moeda novamente e mostrou ao menino como ele fazia, os olhos do garoto brilhavam de admiração. Como era possível fazer aquilo sem que as pessoas percebessem o truque? Sua mente mergulhava em pensamentos confusos, parecia algo tão simples e ao mesmo tempo tão mágico.
-Entendeu como funciona meu amigo? Perguntou o velho com seu costumeiro olhar admirado.
-Acho que sim, mas parece difícil.
-basta ter um pouco de pratica. Tente fazer desta vez. Você vai ver que não é tão difícil assim. Dizia o velho enquanto colocava as moedas na mão daquele garoto curioso.
Após algumas tentativas o garoto viu que realmente não era tão difícil quanto parecia, mas sua admiração havia desaparecido. De fato ele agora demonstrava certa decepção, no que disse:
-ah!! Era mais legal quando eu não sabia fazer. Agora nem parece mais tão mágico assim moço.
Como já esperado o velho soltou outra gargalhada despreocupada, as pessoas que o observavam ficavam admiradas com aquela cena, pareciam apenas 2 crianças se divertindo. Sem se preocupar com os olhares a sua volta o velho respondeu ao menino:
-Mas a mágica não esta nas mãos de quem a cria, e sim nos olhos de quem a vê!
Sem compreender o que ele disse, e com uma visão bem simples da situação, o menino indagou:
-Mas como assim? Não é você o mágico? A mágica esta nas mãos do mágico, né?
-Nem sempre moleque. Um dia você vai entender.
Após cerca de duas horas sentado naquela calçada, com um menino de rua como companhia, o qual ele conhecera naquele mesmo dia, vendendo bala em um semáforo próximo dali, o velho pergunta ao menino:
-Hey moleque, esta gostando de aprender esse truque?
-Sim, mas agora a mágica não é tão divertida quanto era antes. Me diz moço, por que você esta aqui me ensinado isto? Você não deveria esta fazendo mágica pra ganhar dinheiro? Não é isso que os mágicos fazem? Será que eu posso ganhar dinheiro fazendo isso?
Novamente aquela gargalhada que já se tornou a marca registrada do velho.
-Calma ai moleque, uma pergunta de cada vez. Você pode ganhar dinheiro com isso sim, por isto te ensinei o truque. E não! Não é só por dinheiro que um mágico trabalha. Alguns apenas buscam criar a verdadeira magia, este já seria por si só, o truque mais recompensador de todos.
-E qual é essa mágica? Desaparecer de verdade? Perguntou o garoto, voltando a mostrar olhos admirados
-Não, na verdade a mágica verdadeira é você criar esperança onde não há. Respondeu o velho dessa vez com um sorriso satisfeito no rosto.
-E você já conseguiu isso? Como é?
-Sim – disse soltando um riso baixo – na hora certa você compreendera isso meu amigo. Sei que o dia esta sendo divertido, mas tenho que ir agora. Que tal continuarmos nossa lição amanha? Aqui mesmo, a tarde. O que você me diz?
Sem pensar direito o garoto já respondeu que estaria amanha ali, durante a tarde esperando o velho.
-Mas ei moço, por que você esta me ensinando isso? A maioria das pessoas nem olham pra mim por eu morar na rua.
-E elas estão certas em ignorá-lo? Perguntou o velho com um ar sério, mas que não conseguia dissipar a satisfação daquela conversa em seu rosto.
-Não, mas...
-Mas eu não tomo atitudes sem um motivo, isso responde a sua pergunta? Respondeu o velho cortando o comentário do garoto
Agora o menino estava de cabeça baixa, notava-se de longe um ar melancólico sobre tão pobre criatura, e para os que estavam próximos, podia-se notar também uma lagrima em seu rosto. Ele levantou seu rosto lentamente, demonstrando clara vergonha de suas lagrimas, e segurando a camisa do velho falou.
- Ei moço, obrigado. Obrigado por conversar comigo ta.
O velho, agora sentindo total satisfação de sua conquista retrucou:
-Eu que deveria agradecer por você tirar seu tempo pra conversar com esse velho aqui. Um dia você descobrira que você me ajudou mais hoje do que acha que eu te ajudei.
E deixando o garoto ali, parado, ainda tentando absorver aquela tarde, ele partiu com passos lentos e leves, como se nada mais importasse naquela tarde, afinal ganhara um amigo novo, um amigo que poderia salva-lo de seus demônios, e que ele ajudaria a se reerguer na lama, afinal via aquela criança como uma lótus. Uma comparação que de inicio nem ele mesmo havia compreendido, mas sentia que havia algo em comum, talvez ele conseguisse naquela criança fazer brotar a mágica verdadeira, a qual ele sempre admirou.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Uma Tarde Fria
O chão havia sido pincelado em mórbido e frio tom cinza. Aquela fina chuva caindo sobre o rosto aterrorizado do único infeliz que ainda possuía uma alma, tornava aquela uma cena digna de profecias apocalípticas.
Seus olhos fixavam o vazio a seus pés, sentia seu ombro latejar, como se pedisse para que soltasse o escudo por um momento, mas sua mente estava aprisionada por um devaneio paradoxal. O vermelho que chamuscava em sua visão periférica tentava desviar seu olhar e sua mente.
Era perturbador aquela cena, o sangue quente escorria de fontes disformes no chão, marcando a terra como enormes feridas em um animal moribundo, o sol recusara-se a presenciar aquela festa, o solo fora coberto por um vil tapete de corpos dilacerados. No centro daquele macabro salão de festa uma criatura estava ajoelhada, no centro do baile, rodeado por inúmeros visitantes que ansiavam por encontrá-lo.
A batalha havia chegado ao fim, àquela disforme criatura encontrara forças para levantar seu rosto, não havia como saber se de seus olhos escorriam lagrimas ou era apenas a chuva trabalhando mais ainda naquele inferno. Não há nada como presenciar o vitorioso de uma batalha, o orgulho em seu olhar, sentir aquela aura de vitoria emanada de sua alma, mas ali não se presenciava isso. O sobrevivente demonstrava um terror maior que os próprios cadáveres a sua volta. Ele se recusava a olhar os corpos que o faziam companhia naquele banquete de sofrimento. Sabia que conheceria muitos ali, alguns com ele já haviam passado momentos de incalculável prazer, outros ele mesmo havia feito a abertura para que sua alma encontra-se uma saída.
Alivio insignificante naquele tormento, jogara seu escudo no chão, o baque veio como um trovão aos seus ouvidos. Nada alem de penumbra, a luz passava de forma vacilante pelas nuvens escuras, o ar tocava seu rosto como laminas, aquela sensação de vida era seu carrasco. Sua armadura e sua espada jaziam no chão frio e úmido a sua frente. O peso de sua armadura agora atormentava a terra a seus pés, o guerreiro ainda permanecia curvado, trocara sua armadura de metal por uma ainda mais pesada, a culpa.
Uma melodia para aquele momento... Não, nada pode completar aquela cena. Estava em sua perfeição. Um caos perfeito, a junção de um inferno físico com um inferno espiritual.
O sobrevivente não podia ver, mas alguns espíritos ainda o assistiam, esperando sua derrota interior. Eles estavam ansiosos por um encontro direto, viam na face daquele recipiente que ainda continha alma a desistência. Era questão de tempo até que estivessem todos juntos naquele baile.
-Back- O som de seus joelhos encontrando o chão novamente.
- é agora. Ficaremos juntos agora. – acreditavam os espíritos que o observavam
Uma cena clássica, o sobrevivente estava olhando suas mãos, via a chuva fina lavar a história daquela tarde. UM SOBREVIVENTE. Era apenas isso que ele era. Sabia que muitos o chamariam de herói, de uma lenda, mas no fundo de sua alma sabia que havia perdido a batalha, por isso era apenas um sobrevivente.
Naquele momento, sob aquele mar de pesadelos, aquela deplorável criatura juntou as mãos e começou a rezar por todos que haviam sucumbido naquele solo. Uma tentativa de redenção inútil, mas digna de ser gravada na história. Aquela era uma cena ainda mais triste que o próprio campo de batalha, pois todos sabiam que Deus não ouviria as preces clamadas daquele solo amaldiçoado. Até mesmo Deus o abandonara, seu pecado havia sido maior que sua própria tragédia, e o pedido de desculpas não despertaria os corpos que estão a sua volta.